Subverto os versos; desfaço as
poesias: livro-me de mim para falar de ti, Princesa forjada em gelo,
quintessência de meu complexo Édipo que só envelhece. Alelofobia
de minhas fábulas onde as canções do bardo refolegam na lama do
meu quintal inundado pelos olhos teus. Imperfeita em tua perfeição,
tresloucada, moira e predestinada – nunca minha. Passeio pelos
bosques fitando tuas ninfas nuas e despudoradas, esperando teu raiar
na madrugada da minha (des)alegria. Enquanto o dia não nasce se faz
na que adora dançar e entre os véus das Mil E Uma Noites faz de mim
poeta em uma modernidade descabida. Tece o que é minha vida e desfaz
o que é minha rima; tece o que é seu destino, me deixa de fora, não
me contamina. Porque se é Princesa um dia Rainha Será – escreve
em Runas seu bailar, de gelo faz teu cetro e não me chama para
dançar: é poesia demais essa minh'alma de quimera travestida.
Se Princesa é Musa, também é a que
desperta desejo, com Amor aos seus pés, maravilhado. Se até ele
você encanta, o que faz comigo Princesa? Me deixa mais que
intrigado! Dos ossos teus faço um tamborilar ritmado, porque teus
olhos lamaceiam minha alma e despertam minhas canções. Posso ser
teu bardo e fazê-la em dança? Dou um nome belo para tua canção!
Runa do Gelo, assim se chamaria, feita para aquela que apodreceu
minha modernidade em mitologias de uma tresloucada devastação.
Tinge as madeixas em um tom escuro do
céu – retira do meu olhar o azul e deixa-me escuridão: diz que
são esses os olhos que um poeta anacrônico a ti deveria ter. E
quebra novamente meus versos com tuas anquilhas esfarrapadas, já que
teu Reino está demais Para Lá e tu está demais Para Aqui, então é
somente sobrevivente nessa contra-dança. Mas ainda dança, Runa?
Ainda baila em teu ritmo tamborilado com os próprios ossos? Veste em
força uma camisa etérea – treslouca-se e retorna em um eterno
regresso para uma vida que nunca tivera, mas não aceita chá nenhum
e nem o oferece, aliás, não se corrompe por pouco ópio – sempre
precisa de mais e por ele sempre pede.
Coma-me e beba-me, Runa. Devore-me, já
que nunca seria eu capaz de decifrar teu enigma de Coração Gélido
e sensibilidade demais para se fazer insensível. Surripia-me do meu
tempo e me faz suplicante no teu e talvez ofereça-me poucas moedas
para que eu consiga um conhaque barato em meio a esse inverno do seu
contemplar. Já que de nobre Capitão fui rebaixado a pedinte: quem
seria eu para navegar na imensidão do Teu Olhar?